quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"Profissão impossível"

“O educador é um testemunho vivo de que podemos evoluir sempre, ano após ano, tornando-nos mais humanos, mostrando que vale a pena viver”

> O Povo, 18/10/2008 - Fortaleza CE

José Manuel Moran
Isabelle Câmara

Alguns estudiosos, entre eles o sociólogo suíço Philipe Perrenoud, dizem que ser professor é escolher uma “profissão impossível”, na medida em que está entre aquelas que trabalham com pessoas. Com outras palavras e de maneira mais simbólica, o filósofo e escritor indígena Daniel Munduruku diz que educar é como catar piolhos, porque se você desistir por um dia, sobretudo nas aldeias indígenas, eles voltam a se proliferar. Por esta razão, o sucesso do empreendimento educativo nunca estará assegurado, pois em tais profissões sempre há mudanças, ambigüidades, conflitos, opacidades e mecanismos de defesa. E aproveitando a data comemorativa em torno do “lapidador de almas”, falemos sobre um mal ainda pouco explorado que afeta os docentes: a Síndrome de Burnout. Pode parecer um assunto pouco agradável, mas por ser tão pouco explorado e a saúde do professor ser alvo de diversas preocupações, eis o nosso tema. A Síndrome de Burnout pode ser definida como um tipo de estresse contínuo vinculado a situações de trabalho, resultante da constante e repetitiva pressão emocional associada ao intenso envolvimento com pessoas por longos períodos de tempo. E nos professores, o burnout afeta o ambiente educacional e interfere no alcance dos objetivos pedagógicos, levando
estes profissionais a um processo de alienação, desumanização e apatia, ocasionando problemas de saúde e intenção de abandonar a profissão. Tanta cobrança íntima tem fundamento: se por um lado exige-se que o professor seja companheiro e amigo do aluno, lhe proporcione apoio para o seu desenvolvimento pessoal, exige-se que ao final do curso adote um papel de julgamento. Ao tempo em que deve estimular a autonomia do aluno, pede que se acomode às regras do grupo e da instituição. Algumas vezes é proposto que o professor atenda aos alunos individualmente e em outras ele tem que lidar com as políticas educacionais para as quais as necessidades sociais o direcionam, tornando professor e alunos submissos às necessidades políticas e econômicas do momento. Geralmente, altos níveis de burnout fazem com que os profissionais fiquem contando as horas para o dia de trabalho terminar, pensem freqüentemente nas próximas férias, se utilizem de atestados médicos para aliviar o estresse e a tensão do trabalho ou, em última instância, peçam demissão. O professor acometido pela síndrome tem dificuldade de envolver-se, falta-lhe carisma e emoção quando se relaciona com estudantes, o que afeta não só a aprendizagem e a motivação dos
alunos, mas também seus comportamentos. Trabalhar não é só aplicar uma série de conhecimentos e habilidades para atingir a satisfação das próprias necessidades; é, fundamentalmente, fazer-se a si mesmo transformando a realidade. Partindo da concepção de que o homem é um ser social historicamente determinado, que se descobre, se transforma e é transformado pela via do trabalho, é de fundamental importância entender os fenômenos psicossociais que envolvem o trabalho humano. Desta forma, é possível auxiliar o professor para que ele possa concretizar seu projeto de vida pessoal e profissional com vistas à melhoria da sua qualidade de vida e de todos os envolvidos no sistema educacional. E mais: erradicar o burnout em professores não é tarefa solitária, mas uma ação conjunta entre professor, alunos, instituição de ensino e sociedade. E, por fim, burnout não é um fenômeno novo; o que talvez seja novo é o desafio dessa categoria profissional em identificar e declarar o estresse sentido. O professor conhece muito sobre o quê e como ensinar, mas pouco sobre os alunos e, muitas vezes, muito menos sobre si mesmo.

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