quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Disciplina na escola

> Gazeta de Cuiabá, 06/11/2008 - Cuiabá MT
Suelen Dias de Moura

A indisciplina na escola foi definida de um modo geral como ausência ou negação de um comportamento desejável. A maioria das respostas acusa "falta de algo" nos alunos com problemas disciplinares: falta de limites, falta de atenção, falta de organização do material, falta de material, falta de higiene, falta de respeito às regras, aos valores, aos colegas e aos professores. Estes alunos são descritos como quem "não respeita regras e combinações, não atende ordens, não tolera frustrações, não consegue se conter, não respeita o patrimônio". Por outro lado, uma das professoras recusa-se a usar a expressão indisciplina devido a dimensão taxativa e preconceituosa corretamente associada ao termo. Dois educadores entre tantos outros merecem ser citados nesta abordagem, pois vivem em contextos diferentes, tiveram que repensar a questão da disciplina escolar tendo em vista a opção política e pedagógica que haviam feito. O primeiro deles é Celéstin Freinet, educador francês, ao conceber e efetivar uma nova forma de intervenção pedagógica observou que as crianças jovens modificavam nas posturas em decorrência da forma de diferenciada de serem atendidos na escola.
Percebemos através dela que o autor afirma eu a disciplina está no interesse das crianças relacionado ao trabalho pedagógico do professor, ou seja, da sua proposta (Freinet, 1975:123). O autor afirma que se a escola trabalhar na organização minuciosa das ações empenhadas pela escola, solucionará o problema da disciplina. A disciplina não é feita de certas medidas "disciplinares", mas sim de todo o sistema de educação, de todas as circunstancias da vida de todas as influencias a que as crianças estão sujeitas. Nesse sentido, a disciplina não é a causa, não é o método, não é o meio de uma boa educação, mas o seu resultado. Freqüentes comportamentos agressivos, violentos mesmo de parte da população estudantil no recinto da escola e nas salas de aula, são observados. Convém nesse sentido encaminhar algumas questões, visando posicionar o entendimento das possíveis relações existentes entre disciplina escolar, culturas e violência nas salas de aula.
Na verdade nem toda responsabilidade deve ser delegada à escola. Também as novas formas de enfrentar e representar as suas realidades vêm sendo gestadas, portanto capazes de explicar mitos de seus comportamentos e postura. Vale ressaltar que segundo depoimentos de alguns professores e funcionários e também através das observações de alguns fatos ocorridos na unidade escolar pudemos perceber que os maiores problemas de relacionamento de "conduta" começam a aparecer a partir do segundo ciclo, ou seja, nos pré-adolescentes e adolescentes.
O projeto político da escola cidadã pode contribuir para a formação das identidades e subjetividades dos seus educandos, possibilitando melhores condições de encaminhar ações buscando o equilíbrio dessa situação. Frente à questão mencionada percebemos a necessidade de nos orientarmos no sentido de fortalecer as bases da unidade escolar para uma futura atitude de autonomia moral e cooperação intelectual, transitando entre a construção de limites pessoais e sócias sempre levando em consideração os contextos socioculturais de seus alunos. Partindo desses pressupostos, propomos uma leitura pedagógica do que seja disciplina e indisciplina. A questão da disciplina é um papel delicado, portanto requer que pense na função da escola, em sua missão, objetivos e nos conceitos de aprendizagem, em especial nas relações professor/aluno e ensino/aprendizagem, só assim poderíamos ajudá-los a entender seus papéis e compreender o mundo, educando-os para a vida. Errarmos ao tentar tratar como homogêneo algo desigual como a relação adulto e criança ou a relação professor e aluno. Porém nas classes mais pobres, que são grupos mais excluídos, infelizmente todos da família tem que trabalhar, do filho mais velho ao menor ingressam ao mercado de trabalho e isso faz com que essa família fique extremamente fragilizada, comprometendo seus valores. Estamos vivendo atualmente grandes avanços tecnológicos provenientes das grandes transformações sociais.
Hoje compreendemos que as propostas de trabalhos devem estar sendo reformuladas no sentido de vivenciar a nossa realidade, porém para compreendermos essas mudanças, deve haver participação de todos os membros que compõem a unidade escolar, no sentido de planejar a educação coletivamente. Na minha opinião não adianta a escola eliminar a violência e a indisciplina colocando-as fora do campo escolar, pois instala uma tensão permanente nos alunos, e quando essa tensão é vivida coletivamente ela assegura a coesão do grupo, pois impede dos mesmos se expressarem, transformando a violência tão desenfreada que nenhum aparelho repressor, por mais eficiente que seja, poderá conter. Quanto maior a sua capacidade em assumir e controlar a violência, mais a escola dará ao conjunto uma mobilidade que permitirá driblar e agir com tolerância perante os diferentes tipos de agitação. Trabalhar com esse tema contribuiu de forma substancial para minha formação. Pude assim adquirir embasamento teórico e prático para minhas ações. Posso ainda afirmar que hoje consigo compreender com maior clareza o contexto social e educacional no qual estou inserida, bem como quais tendências pedagógicas estão sendo aplicadas.

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