terça-feira, 15 de setembro de 2009

O salto da educação infantil

> Gazeta do Povo, 13/09/2009 - Curitiba PR

Em 15 anos, o porcentual de crianças com idade entre 4 e 6 anos matriculadas no Brasil passou de 45% para 79,8%. O Paraná também avançou, mas está abaixo da média nacional Pollianna Milan
A formação dos pais e a redução do tamanho das famílias fizeram com que o Brasil desse um salto no acesso à educação infantil. Em 1992, o p!ís tinha 45% das crianças, com idade entre 4 e 6 anos, matriculadas em uma escola. Este porcentual saltou para 79,8% em 2007, conforme levantamento feito pela Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Paraná avançou em ritmo ainda maior: passou de 24,45%, em 1992 para 72,8%, em 2007. Mesmo assim, o estado mantém um porcentual de crianças matriculadas abaixo da média nacional. Para especialistas consultados pela reportagem, o Paraná ainda não apresenta um desempenho melhor por causa da educação no interior. “Ainda somos uma região que tem vários municípios com ambiente predominantemente rural, onde os pais não se preocupam tanto em levar os filhos pequenos para a escola. Dificilmente crianças menores de 5 anos vão para a aula nestes locais”, explica a pedagoga Maribel Rhoden, mestre em educação e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). O superintendente-executivo da Secretaria de Educação de Curitiba, Jorge Wekerlin, lembra que, desde 1997, os municípios conseguiram ampliar a oferta do ensino público para esta faixa etária de crianças, quando foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) – hoje Fundeb. “Crescemos na oferta de vagas nestes últimos 15 anos e conseguimos chegar a bairros em que a iniciativa privada não estava. Na época, sobraram recursos para investir também na educação infantil”, diz. Antes disso, não havia (ou existiam poucas) creches ou pré-escolas para as crianças dos bairros afastados de Curitiba, assim como o interior do estado que,
ainda hoje, sofre com a falta de infraestrutura: até os 5 anos, o ensino é facultativo, o que faz com que o próprio governo (seja qual for) não se preocupe em ofertar vagas para esta faixa etária. Matrículas - A Secretaria Municipal de Curitiba não soube determinar com precisão quantas crianças – na faixa dos 4 aos 6 anos – estão matriculadas na cidade. Apenas informou que, desde 2005, o número de matrículas nas escolas públicas tem superado o das privadas. Para o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Curitiba, Ademar Batista Pereira, há apenas quatro anos houve um aumento considerável das matrículas para a educação infantil. “É resultado da percepção de que este ensino é importante”, afirma. No mês passado, a coordenadora do Centro de Apoio às Promotorias de Educação do Ministério Público do Paraná, Hirmínia Dorigan de Matos Diniz, questionou publicamente onde estavam as 120 mil crianças que não apareciam matriculadas nas creches de Curitiba e nem reivindicavam uma vaga. Para chegar ao cálculo, ela cruzou a estimativa da população infantil da capital – entre 0 a 5 anos – com o número de vagas ocupadas tanto nas escolas privadas como públicas. “Temos 170 mil crianças neste faixa etária e 50 mil matriculadas (ou que devem conseguir uma vaga nos próximos meses, quando a prefeitura promete ampliar a oferta de creches em quase 10 mil). Onde estão as outras 120 mil?”, questionou a promotora na época. O exemplo dado por Hermínia explica por que, segundo a pesquisa, o Paraná tem um bom porcentual de crianças na escola. “O número fica superestimado porque leva em conta apenas crianças de 4 a 6 anos – não fala das menores.
A questão é que crianças de 5 e 6 anos já devem estar na escola, porque os pais são obrigados a matriculá-las. É claro que temos uma boa infraestrutura em Curitiba, por exemplo, para atender a educação infantil. Mas também sabemos que existe uma fila de espera para as menores”, afirma Maribel. Evolução - O Censo Escolar do Ministério da Educação, de 2001, já mostrava que as matrículas na educação infantil lideravam no ranking das crianças que passaram a frequentar a escola. Também apontava que as escolas particulares ficavam com 25% dos alunos, enquanto as públicas tinham 68%. A pesquisa da FGV aprofundou os dados, mostrando quais os motivos que levaram os pais a colocar as crianças cada vez mais cedo na escola. Além do encolhimento da família – que contribui com as condições financeiras –, houve uma melhora na formação acadêmica dos pais. “Por isso, a conscientização ficou maior. Pais mais educados valorizam mais a educação e se preparam melhor para investir nesta área”, explica o economista André Portela, um dos autores da pesquisa. Entre outros fatores, Portela afirma que a oferta no ensino pré-escolar aumentou, o que também ajudou a mudar a realidade brasileira. Entre 1992 e 2007, o número de unidades passou de 62.431 para 104.323 no Brasil. Há ainda o fato de as mulheres, em número cada vez maior, trabalharem fora e, algumas vezes, serem chefes de família, o que as obriga a colocar os filhos na escola mais cedo. “A pesquisa mostra que, obviamente, é mais rápido subir de 45% para 80% . Agora, chegar aos 90% ou próximo dos 100% de crianças matriculadas vai demorar mais do que os 15 anos. Será um desafio”, analisa Portela

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