sexta-feira, 3 de abril de 2009

Mudança no vestibular

Estado de Minas, 03/04/2009 -
Belo Horizonte MG

Proposta do MEC pode ser início de revolução no ensino médio


O Brasil está diante de uma boa oportunidade para melhorar o currículo escolar a que estão submetidos nossos jovens e crianças. O Ministério da Educação (MEC) prepara um projeto que promete movimentar especialistas e profissionais da educação em todo o país. Está aberta a temporada de debate da proposta de acabar, ainda este ano, com o vestibular tradicional das universidades públicas. Ele seria substituído por uma ou mais provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mais do que mudar a fórmula atual de seleção de quem vai ingressar numa faculdade pública, a novidade, dependendo de como for adotada, pode significar a largada para um salto que se torna cada dia mais urgente: o da qualidade do ensino, se não do fundamental, pelo menos o do nível médio. A proposta já está com os reitores e, como as universidades têm autonomia, sua implantação vai depender do colegiado de cada uma delas. Eles podem rejeitar ou aceitar o modelo, acrescentando exames ou critérios próprios para seus cursos. As faculdades particulares vão aderir apenas se quiserem. Pela proposta do MEC, o novo vestibular prevê a aplicação de quatro provas com 50 itens de múltipla escolha cada uma, divididas por áreas de conhecimento: linguagens (português, redação, inglês ou espanhol), ciências humanas, ciências da natureza e matemática. Os exames poderão ser aplicados mais uma vez por ano, podendo ser repetido pelo mesmo aluno, em busca da melhor nota. Outra mudança importante é a criação de uma espécie de portabilidade. Aplicado no mesmo dia, o exame básico nacional será igual para todas as universidades, dando ao aluno de qualquer estado o direito disputar, com a nota que obtiver, uma vaga em qualquer universidade federal do país. Ele vai ficar apenas na dependência de atender ao critério mínimo exigido para o ingresso em cada uma delas. O ministro da Educação, Fernando Haddad, argumenta que o novo exame poderá ir além da memorização exigida atualmente, acrescentando a aferição da capacidade analítica do candidato.
É certo que o velho vestibular estava mesmo passando da hora de ser substituído. Com suas pegadinhas e espertezas, as provas atuais mais parecem um naufrágio promovido pela universidade que, em seguida, recolhe alguns sobreviventes. E, com esse espírito, acabou moldando os currículos e a didática da maioria das escolas públicas e privadas do ensino médio, sem contar a indústria dos cursinhos especializados, aos quais têm acesso apenas os alunos de famílias de renda mais alta. Mas de nada vai adiantar trocar seis por meia dúzia. Esta é a oportunidade para se fazer esforço consistente de requalificação do ensino médio, que deixaria de ter uma única e estreita porta de passagem para a universidade. Poderia ser aperfeiçoado o sistema de aferição individual ao longo do curso. Com isso, seriam desenvolvidos currículos e provas mais inteligentes. Quanto à portabilidade, se o aluno de região menos desenvolvida poderá disputar vaga na UFMG, tendo nota para isso, é bom lembrar que a recíproca é verdadeira. Isso poderá gerar desequilíbrios inconvenientes para os alunos de regiões mais pobres. Se é verdade que o problema da educação no Brasil permanecerá sem solução, enquanto não se fizer uma revolução na qualidade do ensino em geral, a mudança no vestibular pode ser um ponto de partida.

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