sábado, 2 de maio de 2009

Investimento público no ensino médio ainda é insuficiente, diz ministro

Investimento público no ensino médio ainda é insuficiente, diz ministro
Folha Online, 29/04/2009 - São Paulo SP

Da Agência Brasil

A discrepância entre as notas das escolas particulares e públicas no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) explica-se em parte pelo baixo investimento feito na rede pública de ensino. Foi o que avaliou o ministro da Educação, Fernando Haddad. Os dados do Enem 2008 por escola foram divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Em 2007, o investimento público em educação foi de R$ 1.500 ao ano por aluno do ensino médio. "O ensino médio teve um incremento muito importante por parte dos governos estaduais, com aumento de 50% de 2005 para 2007. Mas ainda é muito pouco, o que é investido anualmente praticamente se compara a uma mensalidade das melhores escolas particulares do país."

Para o ministro, as escolas particulares e as públicas federais já atingiram as metas previstas no PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação). Ele prevê que todas as escolas do país tenham média 6 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). "Elas tem uma média que é a meta do PDE para o país no seu conjunto. Se verificarmos os indicadores de qualidade das públicas federais e das particulares, elas estão num patamar bastante elevado, comparável aos dos países mais ricos do mundo, o que não ocorre com as escola públicas estaduais", afirmou. Para ele, a aferição bianual do Ideb permite monitorar a evolução da rede pública.

Haddad voltou a defender que o novo Enem como forma de seleção para as universidades federais será capaz de melhorar a qualidade do ensino médio. "Por contemplar conteúdos da grade curricular do ensino médio, o novo Enem vai orientar o trabalho das escolas, assim como a Prova Brasil teve efeito sobre o ensino fundamental. Hoje essas escolas conseguem organizar o trabalho em sala de aula pela matriz da Prova Brasil", disse.



Piores escolas no Enem têm 60% dos alunos

Folha de São Paulo, 30/04/2009 - São Paulo SP

No país, há 598,7 mil jovens que estudaram em colégios que ficaram abaixo da média nacional; pior situação é das públicas estaduais. A nota baixa no exame significa mais dificuldades para ingressar no ensino superior e indica problemas no ensino dessas unidades
FÁBIO TAKAHASHI DA REPORTAGEM LOCAL
Escolas que estão abaixo da média nacional do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) concentram 60% dos estudantes que fizeram a prova. Em números absolutos, são 598,6 mil alunos que se formaram em colégios de baixa qualidade. Os dados foram tabulados pela Folha, com base nos dados do Ministério da Educação. Numa escala de até 100 pontos, a média ficou em 49,45. Ficaram abaixo do patamar 11.932 escolas (do total de 19.117). O Enem é uma prova optativa para alunos que se formam no antigo colegial. O exame, com testes e redação, prioriza o raciocínio frente a situações-problema (por exemplo, uma questão que aborda a melhor forma de vencer o jogo-da-velha). O modelo é diferente de vestibulares, que cobram conteúdo específico do currículo.

A prova é utilizada como parte da seleção de calouros para universidades e para concessão de bolsas de estudo em universidades privadas pelo Prouni (programa federal que beneficia alunos da rede pública). Assim, nota baixa no Enem significa mais dificuldades para ingressar no ensino superior. Também aponta problemas na educação oferecida nas escolas. João Cardoso Palma Filho, vice-presidente do Conselho Estadual de Educação e professor da Unesp, afirma que o dado traz um aspecto positivo, pois 40% dos alunos estão em escolas acima da média. "Não é tão ruim, mesmo porque aumentou bastante o número de alunos no ensino médio nos últimos anos, a maior parte oriunda do ensino fundamental público. Mas claro que precisaria melhorar", disse.

Ele afirma que, nas escolas de ensino médio de pior qualidade, problemas como a falta de professores e o desinteresse dos alunos, em razão do foco específico no vestibular, prejudicam a aprendizagem. "A melhora passa por uma necessidade de rever o currículo, não focalizá-lo só no vestibular, melhorar a formação dos professores, a estrutura, com bons laboratórios, por exemplo, e tentar diminuir a evasão, oferecendo disciplinas de caráter técnico o profissionalizante." Problemas na estrutura apareceram, por exemplo, no pior colégio público da capital paulista (escola estadual João Ernesto Faggin). Os alunos reclamam que não têm acesso livre à biblioteca e à sala de informática e que faltam docentes. A Secretaria da Educação do governo José Serra (PSDB) diz que a unidade está passando por reforma e que as salas de leitura devem ficar abertas.

Problema nas públicas - Os piores resultados aparecem nas escolas públicas mantidas pelos Estados: 73,4% dos seus alunos estudaram em colégios abaixo da média. Na rede particular, a taxa foi de 2,4%. O melhor desempenho apareceu na rede federal (1,9%). O presidente do Inep (instituto do MEC responsável pelo exame), Reynaldo Fernandes, afirmou que vai analisar os dados, pois o órgão priorizou os resultados por escola, e não análises globais do sistema. Colaboraram MÁRCIO PINHO, da Reportagem Local, e o "Agora"


Aluno já sai em desvantagem, diz educadora

Folha de São Paulo, 30/04/2009 - São Paulo SP

MÁRCIO PINHO DA REPORTAGEM LOCAL

O sistema educacional brasileiro reflete uma cisão que existe na sociedade, na opinião de Dagmar Zibas, doutora em educação pela USP e pesquisadora aposentada da Fundação Carlos Chagas. Ela afirma que falta vontade política para fazer um grande investimento nas escolas públicas.

FOLHA - Como vê a presença de 60% dos alunos nas escolas com desempenho inferior?
DAGMAR ZIBAS - É preciso analisar primeiro que o sistema educacional reflete a cisão que há na sociedade brasileira. O Enem sempre mostra que as escolas de elite, com alunos de famílias com melhores condições, estão entre as melhores. A maioria das escolas que atende a população pobre não tem as mesmas condições. Atendem a camada mais pobre, filhos de famílias de menor escolaridade. Então, a comparação de que escola de elite com bom resultado e escola pública com mau não é razoável.

FOLHA - Por que a maioria dos alunos estuda em escolas com notas piores?
ZIBAS - É o problema da falta de investimento. Tem problema de falta de professor, de escola quebrada. Agora, nas escolas públicas melhores, como as escolas técnicas federais ou escolas agregadas a uma universidade, elas são diferenciadas porque, entre outros motivos, fazem muita seleção.

FOLHA - O que precisaria ser feito no ensino público?
ZIBAS - O que precisaria é que fosse dado a esse contingente as mesmas condições. Isso quer dizer escolas boas, bem equipadas, professores que ganham bem e que se ficam mais tempo, dedicam-se só às escolas. Se você pega uma escola técnica federal, o professor fica só lá. Já numa escola de ensino médio da periferia, o professor dá aula em duas ou três escolas. Ele não conhece os alunos pelo nome.

FOLHA - Qual o impacto do ensino para esses alunos no mercado de trabalho?
ZIBAS - Eles já começam com uma desvantagem enorme. Você sabe que tem alunos do ensino médio que são analfabetos funcionais. Como vão competir com alunos de uma escola técnica federal? Imagina esse aluno diante de um estudante de escola de elite, que tem "background" da família, escola bem equipada, viaja o mundo. Para a escola pública cobrir esse abismo teria que estimulá-lo, fazer com que o currículo tenha significado para ele.

FOLHA - O que falta além de investimento?
ZIBAS - Não há uma vontade política de investir de fato nas escolas e de se fazer um investimento fabuloso, que seria necessário em educação.

De cada 10 alunos de escolas técnicas "top", 6 vêm da rede privada

Folha de São Paulo, 30/04/2009 - São Paulo SP
Relação candidato/vaga no "vestibulinho" de escola técnica pública em São Paulo fica próxima da enfrentada por quem tentou medicina. Melhores da cidade são o IFSP e a ETE; para passar na seleção, muitos estudantes fizeram cursinhos preparatórios pagos


TALITA BEDINELLI DA REPORTAGEM LOCAL
Seis de cada dez alunos das duas melhores escolas técnicas da cidade de São Paulo estudaram em colégios particulares. Para entrar nas técnicas, passaram por uma espécie de "vestibulinho", quase tão concorrido quanto o vestibular para o curso de medicina da USP. Muitos, inclusive, fizeram cursinhos preparatórios pagos em instituições especializadas.

A seleção é um dos fatores apontados pelo IFSP -Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, que até 2008 era chamado de Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo (Cefet)- e pela ETE-SP (Escola Técnica Estadual de São Paulo) para o bom desempenho obtido no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). A primeira ficou em quarto lugar no ranking de escolas da capital e a segunda, em nono. O aluno Murilo Grosckitz Almeida, 17, por exemplo, só estudou em colégios particulares até o último ano do ensino fundamental. Ele cursa o último ano do ensino médio na ETE. No ano que vem, pretende cursar engenharia na Escola Politécnica da USP, cuja relação candidato/vaga, 15, foi próxima da apresentada pela escola técnica (10). Na ETE-SP, apenas 30% dos 560 alunos (160 do último ano) fazem junto com o ensino médio algum dos cursos técnicos oferecidos pela escola.

Todos têm acesso, no entanto, à mesma estrutura: quatro laboratórios de informática, cinco de eletrônica e um multidisciplinar (para aulas de biologia, física e química), além de uma biblioteca com 26 mil exemplares, que é "padrão internacional", diz o diretor Carlos Augusto de Maio. Na melhor escola estadual de ensino regular (não técnico) do ranking da capital, a Maestro Fabiano Lozano (zona sul), a biblioteca tem 3.000 livros. No IFSP, a relação candidato/vaga do ensino médio não profissionalizante foi de 30,1 em 2007, último ano em que a instituição aceitou novos estudantes para o ensino médio regular. Essa média é quase igual à apresentada pelo curso de medicina da USP (34,97). Como 60% dos alunos do IFSP (incluindo todos os cursos), assim como os da ETE-SP, são oriundos de escolas particulares, o instituto passou a adotar desde o último vestibulinho uma espécie de bonificação para os alunos de escola pública -eles têm 10% de acréscimo na média final. O ETE-SP faz isso desde 2005.



Nota de escola pública é 33% inferior à da particular


Hoje em Dia, 30/04/2009 - Belo Horizonte MG

Renata Evangelista especial para o Hoje em Dia

A média das notas das escolas públicas no Brasil é 33% inferior ao das escolas particulares em todo o Brasil. O resultado é o mesmo em Minas. Esta é uma das informações dos resultados do Exame Nacional do Ensin Médio (Enem), divulgado na última terça-feira. Apesar disso, Minas ficou bem colocado. Cinco das melhores escolas do Brasil estão em Minas Gerais,entre elas a melhor escola pública, o colégio Aplicação, de Viçosa. O último Enem foi realizado em agosto de 2008, com estudantes de mais de 25 mil instituições. O Colégio Bernoulli, de Belo Horizonte, ficou com a segunda posição geral no ranking nacional, seguido do Colégio de Aplicação, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata, e do Colégio Santo Antônio, também da capital. O primeiro lugar nacional foi para o Colégio São Bento, do Rio de Janeiro.

“Apesar do excelente resultado não ficamos surpresos, pois já vinhamos de uma curva ascendente” contou o diretor do Bernoulli, Rodrigo Fernandes Domingos. A escola obteve nota 77,38 no exame. Em seu sétimo ano de funcionamento, o colégio sempre esteve entre os dez melhores do país. “Um dos nossos maiores diferenciais é que trabalhamos muito a confiança e a motivação dos alunos” disse o diretor. Domingos destacou ainda a qualidade do trabalho dos professores, a ampla carga horária e o arrojado projeto pedagógico da escola. “Temos também um critério rigoroso de seleção de alunos”, concluiu. O Bernoulli conta hoje com 700 alunos e já trabalha para a expansão da Instituição em 2010.

A estudante de engenharia química, Fernanda Diniz Botelho, 17 anos, comemorou o resultado obtido pela escola, mas também não se surpreendeu com a posição. “A qualidade do ensino é indiscutível e a estrutura é ótima”, afirmou a estudante, que se formou no Bernoulli no ano passado e obteve média de 86% no exame. “Com o resultado do Enem, conquistei uma vaga na disputada UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas)”, contou Botelho, que optou por estudar na Universidade Federal de Minas Gerias. A ex-aluna também foi aprovada na Universidade Federal de São João Del Rei. “O suporte dado depois das aulas ajudam muito os alunos” destacou o estudante Carlos Eduardo Simões, que com 16 anos foi aprovado em direito na UFMG. “Fiz o vestibular como trainner e fui aprovado. Me sinto confiante para o próximo Enem”, contou. “Os bons resultados nos últimos anos mostram que a escola está preparada para aprovar em qualquer vestibular ou exame”, reforçou o estudante João Pedro Santiago Carneiro, 17 anos. (Colaborou Augusto Franco)


Ensino de qualidade custa caro


O Tempo, 30/04/2009 - Belo Horizonte MG

Das 20 escolas mais bem avaliadas pelo Enem na capital, 17 são particulares
Michelle Valverde Especial para O Tempo

A garantia de um ensino de qualidade custa, em geral, muito caro em Belo Horizonte. A conclusão pode ser feita após análise do resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulgado na terça-feira. Das 20 escolas na capital com as maiores médias no Enem, 17 são da rede particular. As outras três são do ensino federal (Colégio Militar, Coltec e Cefet), que exigem processo de seleção. Segundo levantamento feito pela reportagem de O TEMPO, o preço médio das mensalidades na capital para o terceiro ano do ensino médio gira em torno de R$ 800. A melhor escola estadual no ranking é a Professor Leopoldo de Miranda, no bairro Santo Antônio, que aparece apenas no 69º lugar entre as instituições da cidade. A melhor municipal é a Governador Carlos Lacerda, no bairro Ipiranga, que está na 97ª colocação. O diferencial oferecido pelas escolas privadas é o investimento na equipe de profissionais. Os colégios apostam, principalmente, na qualidade dos professores.
Segundo as instituições, o objetivo é garantir aos alunos uma base sólida, que resultará em aprovações tanto em concursos quanto em vestibulares. O alto valor da mensalidade é considerado por pais e alunos como um investimento para o futuro. De acordo com Rodrigo Domingos, diretor do Colégio Bernoulli, segundo mais bem avaliado entre todos do país e o primeiro em Minas, com a atual situação das escolas públicas, os pais só não colocam os filhos na rede privada quando não têm condições financeiras. "Aqui na escola nós conhecemos pais que abrem mão de várias coisas para manter os filhos em uma escola de qualidade. Essa é uma forma de garantir o futuro, já que eles têm forte base de ensino", disse Domingos. A estudante Mariana Veigas concorda. Para ela, o investimento nos estudos é fundamental para garantir um futuro promissor. "O colégio diferencia muito devido a qualidade dos professores, o material didático e a rotina. Isso motiva a estudar cada vez mais para ser aprovado", disse Mariana, que se prepara este ano para o Enem, o vestibular e a prova do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Valores - Mensalidades da 3ª série do ensino médio nos cinco colégios particulares em BH melhor avaliados no Enem
Colégio Bernoulli - R$ 922
Colégio Santo Antônio - R$ 707,07
Coleguium - R$ 799
Colégio Santo Agostinho R$ 845
Colégio Magnum Agostiniano - R$ 792,06


Evasão em áreas de risco é o dobro da média da rede

O Dia, 30/04/2009 - Rio de Janeiro RJ

Índice de analfabetos funcionais nas Escolas do Amanhã também é maior que nos demais colégios. Realfabetização começa em maio

POR CAROL MEDEIROS, RIO DE JANEIRO
Rio - O percentual de alunos das escolas municipais em áreas de risco que abandonam os estudos é quase o dobro da média de evasão em toda a rede da prefeitura. Dados da Secretaria Municipal de Educação revelam que 5,06% dos estudantes matriculados nas 150 unidades incluídas no programa Escolas do Amanhã, hoje com 108.832 alunos, deixaram as salas de aula. A média de abandono na rede é de 2,61%.

“Normalmente, a evasão no Ensino Fundamental é baixa porque quem toma a decisão são os pais. Nas Escolas do Amanhã acontece um fenômeno diferente: a própria criança, com 11 ou 12 anos, decide sair para trabalhar em vans ou no tráfico, ou para não fazer nada. E a gente perde essa criança, ela nunca mais volta a estudar. Por isso, a ação nessas escolas é urgente”, reconhece a secretária Cláudia Costin. Os números não deixam dúvidas de que as escolas localizadas em áreas perigosas devem ser prioridade: 19,2% dos alunos dos 4º, 5º e 6º anos das Escolas do Amanhã são analfabetos funcionais, contra 14,6% do resto da rede. Para trabalhar com a realfabetização desses e dos outros alunos da rede já foram escolhidos 875 professores, que concluíram ontem o curso de capacitação para as aulas que começam na segunda quinzena de maio. Para as turmas de reforço, a secretaria recebeu a inscrição de 2.594 voluntários, que passarão por triagem e curso.

Outra novidade para pais e alunos será publicada segunda-feira no Diário Oficial do Município. A partir do mês que vem, o prazo para entrada no 1º ano do Ensino Fundamental muda. Agora, crianças que completam 6 anos até 30 de junho podem se matricular na rede. Até então, a criança tinha que ter 6 anos até o dia 1º de fevereiro, o que obrigava quem fazia aniversário em março, por exemplo, a ficar mais um ano na pré-escola. Ontem também foi aprovada na Alerj a Lei de Responsabilidade Educacional, do deputado Comte Bittencourt (PPS), que dá prazo de 120 dias ao fim de cada ano letivo para o governo do estado apresentar relatório anual com todos os indicadores educacionais.

Projeto sugere uso do FGTS para construir creches - Um projeto de lei que está no Senado pode mudar o cenário da Educação Infantil no Brasil, onde apenas 17% das crianças até 6 anos frequentam creches ou pré-escolas. Sugerido pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pela senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), a criação do Programa Nacional de Educação Infantil (Pronei) propõe a utilização do FGTS para financiar a construção de creches em tempo integral para comunidades de baixa renda. Os recursos para manutenção e compra de equipamentos viriam do Fundeb. O projeto já recebeu parecer favorável da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Na terça-feira, a campanha de apoio ao Pronei será lançada no Rio, no Morro Santa Marta, com presenças dos ministros da Educação e da Saúde.



Escola é a melhor da região Sul


Diário Catarinense, 30/04/2009 - Florianópolis SC
Na escola catarinense que apresentou o melhor desempenho no Enem de 2008, as turmas não têm mais do que 35 alunos e o material didático é elaborado pelos próprios professores. Os estudantes do colégio particular Autonomia, localizado no Bairro Itacorubi, em Florianópolis, apresentaram a melhor pontuação da região Sul e a 40ª do Brasil, com 73,28 de média total (a melhor do Rio Grande do Sul teve média 71,87 e a do Paraná, 71,52). Dos 35 estudantes que se formaram em 2008 no Autonomia, 25 realizaram o exame. Para o diretor pedagógico Fernando Dal Prá Netto, a prova do Enem é “tranquila” para os alunos da escola. Isso porque o exame é interdisciplinar e o colégio, que possui um projeto pedagógico diferente do usual, também trabalha desta maneira. Os alunos desenvolvem projetos contextualizados com conteúdos desenvolvidos a partir do cotidiano deles. São os estudantes que levam, para a sala de aula, pontos a serem estudados e discutidos, sempre com a mediação dos professores. As provas são sempre discursivas, não trazem questões objetivas, e exigem que o aluno saiba se expressar. A escola valoriza não só a expressão escrita, como também a oral. Tudo o que os estudantes dizem em sala de aula é importante para os professores, que procuram desenvolver pessoas críticas, que saibam argumentar e “que queiram um mundo diferente”, destaca o diretor, no qual deverão ter capacidade de atuar. Para colocar em prática esses valores, a escola incentivou os alunos a criarem uma rádio interna e, no laboratório de informática, uma enciclopédia online, a Autonopedia. Nesta enciclopédia, eles inserem os verbetes relacionados ao seu cotidiano. Trabalhos também podem ser entregues aos professores no formato de vídeo. Netto ressaltou que o comprometimento com a educação tanto por parte dos alunos quanto dos pais é importante para que um bom desempenho seja atingido. Além disso, a dedicação dos professores é essencial. Todas as quintas-feiras de noite, o corpo docente se reúne para discutir questões que estão sendo tratadas em sala de aula.


Novo Enem é ruim para avaliar a qualidade do ensino médio, diz pesquisadora


Portal UOL Educação, 29/04/2009

Ana Okada em São Paulo

O novo formato de Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é ruim para medir a qualidade da educação no nível médio. A afirmação é da pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, Marina Nunes. "No novo exame não será verificado apenas se o aluno aprendeu o conteúdo do ensino médio, mas serão selecionados os melhores estudantes para as universidades", diz. Segundo ela, o Enem antigo representava uma boa medida da qualidade do ensino. Com o novo formato, o ensino médio perde esse instrumento: "É ruim perder essa avaliação, que já vinha sendo consolidada e era usada para orientar políticas públicas", diz.

A vantagem do Enem antigo, para Marina, é que o exame era universal - todos os alunos podiam fazer - diferentemente do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), que é realizado por amostragem. "Assim, o Enem iluminava escolas que não foram tão bem, o que fazia com que o governo pudesse direcionar ações para a melhoria das condições de ensino." Com o antigo Enem, a escola podia ter mais informações detalhadas sobre sua qualidade: "Os resultados divulgados na imprensa (74,3% das escolas do país estão abaixo da média nacional) mostram que nosso ensino está com grande defasagem entre o que é esperado e o que os alunos conseguem fazer no exame, reflexo da carência que as escolas públicas têm". A especialista acha, no entanto, positiva a idéia de transformar o Enem em um vestibular unificado. Mas tem restrições: "Um exame nacional pode ser bom, mas depende de como for conduzido. Temos diferenças muito grandes, espero que não haja o risco de os alunos com melhores condições sócio-econômicas ficarem com as vagas de quem é menos favorecido". Novo Enem - O novo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deve ser usado como parte do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), feito por alunos de faculdades, universidades e centros universitários do país. Hoje, alunos do primeiro e do último ano de cursos de graduação precisam realizar a prova. A intenção do MEC (Ministério da Educação) é que os jovens que fizerem o novo Enem ao fim do ensino médio sejam dispensados do Enade aplicado aos calouros. O novo formato do exame permitirá também que o resultado possa ser comparado de ano para ano. Antes, a prova tinha níveis de dificuldade diferentes a cada edição, pois não era "calibrada". O objetivo do MEC é que o exame tenha maior nível de dificuldade e possa servir como um vestibular mais democrático, permitindo aos estudantes concorrerem a vagas de outros Estados, sem ter que viajar para fazer provas. Além disso, o exame pretende apresentar conteúdos mais relevantes, servindo de norteador do que deve ser ensinado no segundo grau.


Repetência, uma medida reprovada por educadores


Folha Dirigida, 29/04/2009 - Rio de Janeiro RJ
Alessandra Novaes
Longe da discussão da aprovação automática, outro tema que chama a atenção: a alta taxa de repetência nas escolas brasileiras, próxima de 20%. A variação ocorre de acordo com a série e o ano em curso e a localização regional. Para especialistas, mais do que acabar com a repetência o desafio da educação brasileira é resolver a questão da qualidade de ensino e permitir que, na série adequada, os alunos aprendam. O trabalho para atingir esta meta passa, no entanto, por um processo inevitável: a melhoria das escolas

Diante de toda a discussão gerada a partir da aprovação automática nas escolas da rede pública, um outro dado tem passado despercebido, ou ao menos, à margem de uma discussão mais ampla: as altas taxas de repetência nas escolas brasileiras. A média nacional de repetência, apesar de ter caído nos últimos anos, está próxima de 20%, variando um pouco conforme a série e o ano em curso e a localização regional. De acordo com o Relatório "Monitoramento de Educação para Todos 2008", da Unesco, no ano de 2005, apenas alguns países da África Subsaariana, América Latina e Caribe, e do Sul e Oeste da Ásia possuem índice de repetência escolar maior que o Brasil. "Esses dados evidenciam que a universalização da educação primária está longe de ser atingida no Brasil, se considerado que deveria implicar não apenas estar na escola na idade adequada a essa etapa educacional, mas concluí-la e assim ter acesso a conhecimentos e competências iniciais básicos", informa o relatório.

A professora Zaia Brandão, da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), acredita que o grande problema da educação brasileira foi pensar que a principar questão era apenas acabar com a repetência escolar. "Na verdade, deveriam ter avaliado quais os obstáculos da escolarização, e portanto do ensino e aprendizagem, que precisavam ser resolvidos. Quando o físico Sergio Ribeiro, na década de 90, escreveu que a "Pedagogia da repetência" era a lógica perversa do sistema representada pelos altos percentuais de reprovação, e não a evasão escolar conforme indicavam (erradamente) as estatísticas do MEC, a proposta de correção do fluxo escolar passou a ser a principal meta das políticas educacionais para o ensino fundamental", comentou a professora, para quem reduzir os indicadores de repetência, sem resolver o problema da qualidade do ensino através de estratégias didáticas adequadas à aprendizagem dos alunos, levou à promoção automática e a uma política dos ciclos em substituição às séries escolares.

Para Zaia Brandão, eliminar a repetência como recurso para melhorar o fluxo escolar e corrigir a estatísticas é um total absurdo. "A solução é uma escola que tenha por objetivo a aprendizagem, utilizando todos os recursos possíveis para superar as dificuldades: uma escola bem aparelhada, com boas condições de trabalho para os professores e alunos, com turnos ampliados para que os alunos que não tenham em casa condições de recuperar com explicações complementares o que não aprenderam nas escolas. A repetência, do meu ponto de vista, deve ser um recurso excepcional, só utilizado quando todas as tentativas e estratégias foram esgotadas e a defasagem de aprendizagem esteja prejudicando o acompanhamento da turma", ponderou.

Na visão de outra educadora, a professora Bertha do Valle, da faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é importante que antes mesmo de se pensar a repetência escolar, as escolas acompanhem e se preparem para que ela não chegue a acontecer. "As escolas deveriam ter projetos para que, assim que tivesse começado o ano letivo, os alunos com dificuldades de aprendizagem pudessem ter atendimento e oferecê-lo fora do horário. Poderiam até usar estudantes de licenciatura, dentro da carga horária de estágio, para atenderem os alunos em grupos de no máximo três ou quatro pessoas", afirma a professora, que considera que um dos grandes danos da reprovação aos alunos são os problemas na auto-estima. "Ele passa a ser visto como repetente, fracassado, não só pela escola, mas pela família e também pela sociedade", avalia. Para ela, tanto a repetência escolar como a aprovação automática são ruins. "Deveríamos atuar na prevenção, no aprendizado pleno. A repetência não vai fazer com o que menino seja o melhor aluno da turma no ano seguinte e a promoção automática também não faz o menor sentido. Para mim, a solução é o acompanhamento frequente do aluno, semana a semana. Se olharmos a educação de países mais desenvolvidos, a reprovação dos alunos não é uma norma geral", acredita a docente da Uerj, que considera a carga horária de quatro horas diárias pequena para que os alunos possam ver toda a quantidade de conteúdos necessária ao aprendizado.

A professora Gelta Xavier, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), acredita que repetência é um item importante dentro do tema avaliação, que é um ato de estimar o valor de um trabalho. "Sob este ponto de vista, perde-se totalmente o sentido da repetência, que nos coloca em reflexão sobre as ações educacionais e as oportunidades que a sociedade deixa de oferecer aos alunos", comentou. "Em outros países desenvolvidos, a repetência quase não existe. Há, na Espanha, por exemplo, uma ação de continuidade e envolvimento no processo educacional", contou. Para ela, uma das formas de solucionar a questão da repetência é oferecer a escola de tempo integral. "Não se trata de ocupar a totalidade do tempo das crianças e jovens; mas de ofertar uma educação plena do ser humano, onde eles estejam ocupados com atividades educativas mais amplas, e não apenas as tarefas escolares. Com isso, a tensão do aluno pela resposta imediata será atenuada", avalia a professora da UFF.

Promoção Automática X Repetência Escolar
O pesquisador Sergei Suarez Dillon, do Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea) e autor do estudo "A Repetência no Contexto Internacional: o que dizem os dados de avaliações das quais o Brasil não participa?", a partir do estudo realizado, acredita que a promoção automática é melhor alternativa para o processo educacional do que a repetência escolar.

Países que adotam o sistema de progressão continuada, em geral, têm melhores indicadores educacionais?
Sergei Suarez Dillon - A causalidade da repetência é uma idéia muito complexa. Mas, em dados estatísticos, observa-se que quase todos os países que possuem os bons resultados possuem promoção automática (falo de promoção automática e não do sistema de ciclos) e não têm a figura da repetência durante uma parte do nosso antigo primário, pelo menos, ou então possuem algum tipo de restrição à repetência. Mas a promoção automática ainda é o mais comum entre os países desenvolvidos; mas, claro, existem sim poucos países com bons resultados, como a Bélgica. E a progressão continuada está sendo adotada em países com problemas sociais, como o Marrocos, que tem progressão continuada até a 6ª série, e depois é adotada a repetência; a Macedônia e a Malásia também. Em Educação, as expectativas são absolutamente fundamentais. Se uma criança acha que não vai aprender, não aprende; e vice-versa. A auto-imagem que faz de si é fundamental. Se obriga um menino a repetir um ano depois de ter passado um ano inteiro tentando, ele está recebendo umatestado de incompetência, que pode afetar quem já possui uma auto- estima baixa. É claro que essa é minha leitura desses dados, outras são possíveis. Para mim, é quase inacreditável que ela seja popular no Brasil, entre pais, alunos e professores.

Que problemas a repetência pode gerar?
Além da auto-imagem dos alunos, você gera problemas gravíssimos pedagógicos posteriormente, por misturar alunos de idades diferentes e com estilos de vida e experiências pessoais distintas. Não há método pedagógico que permita ensinar para os dois ao mesmo tempo. E ainda tem a questão econômica, pois cada ano repetido, é economicamente jogado fora: paga-se duas vezes o ensino do mesmo menino. A repetência se torna uma ameaça, um incentivo de forma invertida aos alunos, e isso é péssimo.

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