sexta-feira, 27 de março de 2009

As doenças do magistério

> Folha Dirigida, 24/03/2009 - Rio de Janeiro RJ

Renato Deccache

Sala de aula lotada, barulho dentro e fora da escola, desrespeito dos alunos, acúmulo de turmas em vários colégios, excesso de pressão dos gestores. Tudo isto pode causar bem mais do que frustração e desânimo ao receber o contracheque no final do mês. A falta de infra-estrutura e de condições de trabalho é considerada uma das principais causas doenças que afetam o magistério. São males que atingem o corpo e a mente e retiram, a cada ano, milhares de profissionais das escolas. As pressões do dia-a-dia se refletem em vários sintomas. Depressão, sensação de esgotamento físico e mental e desânimo são indícios da chamada síndrome de burnout, que se caracteriza por um desgaste que afeta o interesse e a motivação em trabalhar. Crises de choro, de medo e pânico podem ser sinais de que o profissional sofre assédio moral.
Os professores também sentem no corpo as conseqüências das más condições de trabalho. Problemas com a voz, alergias, tendinites, distúrbios do sono, distúrbios sexuais, alterações da atenção e da memória, irritabilidade, agressividade, dores na coluna e de cabeça e problemas cardíacos também estão entre os males que afetam muitos dos que ensinam nas escolas. Psicóloga clínica e hospitalar e mestre em Psicologia pela UFRJ, Elaine Juncken diz que o ambiente de trabalho contribui e muito para estas doenças. "Pode ser uma questão relacionada a um ambiente muito competitivo, onde não há tranqüilidade para trabalhar e onde o profissional é desrespeitado com freqüência", disse Elaine.
Um dos riscos é o professor não procurar ajuda médica, por achar que os sintomas estão ligados só a problemas pessoais. Até porque, segundo a psicóloga, as conseqüências vão além da queda na qualidade do trabalho. "O professor pode abandonar a carreira e, em casos extremos, as doenças podem levar o profissional ao suicídio", alertou a doutora. Distúrbios de natureza psíquica podem ocorrer com várias tipos de profissionais. E os professores integram uma das categorias mais suscetíveis, segundo a também psicóloga e professora da PUC-Rio, Sandra Korman. Uma das causas, segundo ela, é a falta de reconhecimento profissional. "Se o professor faz um bom trabalho, ninguém o procura para dizer que foi bem feito. Agora, se o aluno vai mal, a culpa costuma recair sobre quem ensina", comentou a psicóloga.
Sindicatos cobram melhoria nas condições de trabalho - Para representantes dos professores, problemas como baixos salários, turmas lotadas, carência de pessoal para disciplinar o ambiente escolar, alunos mais violentos e falta de infra-estrutura criam a combinação perfeita para derrubar a motivação e levar muitos docentes a hospitais. "A sensação de fracasso é muito grande. Os alunos estão em condições cada vez piores e o culpado é sempre o professor quando, na verdade, a culpa é dos governos que mudam as políticas educacionais e não conseguem alcançar a qualidade", defendeu Wíria Alcantara, uma das diretoras do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe).
Quem também reclama das condições de trabalho dos professores é a presidente da União dos Professores Públicos no Estado (Uppes), Teresinha Machado. Segundo ela, falhas de planejamento na construção das escolas comprometem a saúde dos profissionais, como escolha de locais próximos a vias de grande circulação para instalação de colégios. Ela também chama a atenção para um problema específico em Cieps, que têm parte de suas paredes pela metade, de acordo com o projeto original. "O Inmetro fez um estudo e concluiu que o barulho era enorme e que os locais não eram indicados para prática pedagógica", diz a sindicalista, que destaca outras causas de doenças dos professores. "A iluminação das salas e a posição do quadro negro, muitas vezes, não são adequadas. Além disso, o uso do giz traz alergia. Isto sem falar no agravamento da violência na escola e das pressões políticas e ameaças de transferência, que geram estresse, insegurança e pânico para os profissionais", frisou a presidente da Uppes.

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