terça-feira, 10 de março de 2009

Professores brasileiros não aproveitam a internet como ferramenta pedagógica

Em comparação com outros países, os professores brasileiros estão em último lugar quando o assunto é educação digital.
09/03/2009 - O Estado de S. Paulo

Karina Toledo


Em comparação com outros países, os professores brasileiros estão em último lugar quando o assunto é educação digital. Só 10% dos estudantes do País afirmaram ter aprendido a usar internet na escola e cerca de 50% disseram que nenhum docente usa a rede para explicar a matéria nem a recomenda para o estudo. O dado é mais preocupante pelo fato de que a pesquisa foi feita apenas no Estado de São Paulo. "É a história do copo meio cheio ou meio vazio", diz o presidente da Fundação Telefônica, Sérgio Mindlin. "Talvez, se a pesquisa tivesse sido feita há três anos, o número dos que não usam fosse muito maior. Como 98% das crianças brasileiras vão à escola, é o lugar ideal para se orientar sobre o uso adequado dessa ferramenta." Para o educador Frederic Litto, da Escola do Futuro da Universidade de São Paulo (USP), o País está atrasado no uso educacional da web. "Nos Estados Unidos há 100% de acesso nas escolas e todos os professores sabem usar diversas ferramentas digitais. Aqui os educadores ainda discutem os perigos da internet." Para ele, as faculdades de educação estão "paradas no tempo". "É muita teoria; poucos se preocupam com os problemas práticos da sala de aula." Litto atribui o fato à herança dos colonizadores portugueses, de tradição mais humanista e menos pragmática do que espanhóis e anglo-saxões, e à influência do pensamento francês. "Nos Estados Unidos, quando surge uma nova ferramenta o pensamento é ?vamos absorvê-la?. Já o pensamento francês é ?vamos especular primeiro, filosofar sobre os perigos?." Ele defende que os jovens tenham acesso livre à internet, sem filtros ou proibições. "A criança deve ter direito a errar, a explorar cada cantinho da rede. Quando se deixa livre, o amadurecimento é mais rápido." Valdemar Setzer, professor de ciências da computação da USP e autor de Meios Eletrônicos e a Educação: uma Visão Alternativa, pensa o oposto. "O uso da internet não deveria ser permitido pelo menos até os 14 anos. É preciso ter discernimento, um mínimo de conhecimento do mundo para julgar se os conteúdos são adequados." Segundo ele, pesquisas revelam que, quanto maior o acesso a computadores, pior o rendimento escolar. "Minha experiência mostra que até os 16 anos os jovens só brincam no computador, não têm interesse de usar a ferramenta para a educação." Para ele, a pior coisa a fazer é colocar a máquina no quarto dos filhos.

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