sexta-feira, 27 de março de 2009

Boletim volta com conceito

Estado de Minas, 26/03/2009 - Belo Horizonte MG

Saem as notas de 0 a 10 e entra a avaliação com classificação de A a E, considerando atitudes dos alunos em sala. Especialista da UFMG diz que documento deve retratar a formação do estudante Glória Tupinambás O bom e velho boletim é o personagem principal da escola de resultados que nasce em Belo Horizonte e tira de letra a Escola Plural. Agora em formato padronizado nas 184 unidades da rede de ensino municipal, ele veio para ficar e se transforma, cada dia mais, numa eficiente ferramenta para que pais e professores acompanhem, de perto, o aprendizado de 180 mil alunos. Mas, em vez das tradicionais notas de zero a 10, o boletim passa a informar o rendimento dos estudantes de acordo com conceitos de A a E e traz um grande diferencial: a avaliação da escola em relação às atitudes e valores das crianças e adolescentes em sala de aula. A volta do boletim padrão, que começou a ser testado em maio do ano passado e este ano se tornou oficial, é uma tentativa de acabar com distorções da Escola Plural. Esse modelo pedagógico prevê a divisão do ensino fundamental em três ciclos, de acordo com a idade – 1º (6 a 9 anos), 2º (9 a 12 anos ) e 3º (12 a 15 anos) – e, nos primeiros anos do projeto, implantado em 1995 na capital, a reprovação do aluno só poderia ocorrer no fim dessas etapas. Com isso, a tradição de dar notas e conceitos aos alunos caiu em desuso e muitas unidades de ensino passaram a encaminhar os resultados aos pais apenas no fim do ano letivo. Além disso, cada instituição adotava um formato para registrar o rendimento dos estudantes – notas, conceitos ou até mesmo a classificação de ótimo, bom, regular ou fraco.
Agora, no campo relacionado às disciplinas, aparecem os conceitos de A a E para artes, ciências, educação física, geografia, história, línguas portuguesa e estrangeira e matemática. Ao lado da nota, há uma legenda. O estudante que obtém A atingiu plenamente os objetivos propostos (de 80% a 100%); B, satisfatoriamente (de 60% a 79%); C, parcialmente (de 40% a 59%); D, minimamente (de 20% a 39%) e E não atingiu as metas. Em outra página, está a avaliação dos professores quanto às atitudes dos alunos, como a capacidade de ele se organizar e pôr em ordem seu material escolar, zelar pelos objetos coletivos, seu interesse em aprender e emitir opiniões, o comprometimento com a apresentação de atividades e cumprimento de regras e horários. Além disso, é avaliada sua habilidade de trabalhar em equipe, saber ouvir e respeitar os colegas.
O boletim pode ajudar, segundo a pró-reitora de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do primeiro processo avaliativo da Escola Plural, Ângela Dalben, a acabar com mal-entendidos envolvendo o projeto de ensino. “No início, tivemos uma série de problemas com o fim das notas: o aluno achou que não precisava mais estudar, os pais pensaram que a escola não avaliava mais os filhos e o professor acreditou que seus ensinamentos não tinham valor. Foi uma falha de concepção. Mas toda proposta pedagógica precisa de ajustes e é correto que a rede municipal esteja atenta a essas necessidades”, afirma.
Também autora do livro Singular ou plural? Eis a escola em questão, Ângela teme que a volta do boletim signifique o retorno das avaliações classificatórias. “A Escola Plural trouxe a ideia da avaliação formativa, que mede o processo de desenvolvimento do aluno partindo do ponto em que ele estava e analisando onde ele chegou. Portanto, se o boletim deixar de considerar o crescimento do aluno será um retrocesso. O modelo formativo é muito superior ao classificatório e a família precisa saber da situação do estudante. Assim, o boletim aparece como meio de informação”, acrescenta a pesquisadora. RESISTÊNCIA Apesar de registrar o aprendizado do aluno por meio de conceitos, a Escola Municipal Luiz Gatti, na Região do Barreiro, faz questão de detalhar a nota obtida em cada disciplina. “Nesses anos todos de Escola Plural, nunca abandonamos nosso modelo próprio de boletim. O conceito sozinho não é uma boa referência para os pais. Dizer que o aluno é A, ou seja, numa faixa de rendimento de 80% a 100%, é diferente de ele estar com 99 pontos ou com 81. O modelo implantado pela prefeitura é uma forma de mascarar o baixo desempenho do aluno e facilitar sua aprovação a qualquer custo”, diz a coordenadora pedagógica da escola, Dalva Pereira Costa.
ESCOLA PLURAL ORIGINAL - Implantada em 1995 nas escolas municipais de BH, a Escola Plural levantou a bandeira da garantia do direito à educação para todos, por meio da inclusão social. O ensino fundamental foi dividido em ciclos de idade: 1º (6 a 9 anos), 2º (9 a 12 anos ) e 3º (12 a 15 anos). Nos primeiros anos, a reprovação do aluno só poderia ocorrer no fim dessas etapas. A grande inovação do projeto pedagógico foi o trabalho do aluno como ser humano, que tem necessidades não só de aprendizado formal, mas também afetivas, culturais e sociais. A escola passou a ser encarada como espaço de promoção cultural e de cidadania. Mas, para os críticos do projeto, a forma foi privilegiada em detrimento do conteúdo e a educação formal foi prejudicada.


Desafios a serem vencidos

Estado de Minas, 26/03/2009 - Belo Horizonte MG


Muda o modelo da educação de Belo Horizonte, permanecem os desafios. Para vencer a barreira da qualidade do ensino e atingir as metas do Ministério da Educação, a rede municipal aposta em dois projetos: ampliar o atendimento de educação infantil e aumentar o tempo de permanência dos alunos na escola. Em audiência pública ontem, na Câmara Municipal, a Secretaria de Educação de BH garantiu a abertura de 40 mil novas vagas para crianças de até 5 anos e meio até 2012. O projeto Escola Integrada, que amplia a carga horária para nove horas de aula por dia, deve passar de 15 mil para 30 mil jovens beneficiados até o fim do ano. Segundo a secretária de Educação, Macaé Evaristo, a consolidação dos programas é determinante para melhorar os resultados nas avaliações. “Investir na educação infantil é fundamental, pois o acesso da criança à escola cada vez mais cedo se reflete numa melhor trajetória no futuro. E não adianta falar em qualidade, se as crianças não leem e não escrevem”, afirma. BH tem 47 unidades de educação infantil, com capacidade para atender 17 mil alunos. Para reduzir a taxa de reprovação escolar – hoje de 9,9% no ensino fundamental – a PBH promete investir no reforço escolar e na ampliação da jornada de estudos. “O reforço tem de ser contínuo o que é diferente da reprovação. A reprovação não é positiva por marcar a vida do estudante”, alerta a especialista da UFMG, Ângela Dalben.
BOM EXEMPLO

Muito além dos números e das letras, a escola abriu as portas da capoeira, do futebol e das artes para Pedro Enrique Rodrigues, de 8 anos. Aluno do 3º ano da Escola Municipal Monsenhor João Rodrigues de Oliveira, na Região Leste, ele conta com o apoio da mãe, Míriam, para ficar no colégio em tempo integral. “Os monitores ensinam o dever de casa e dão reforço quando os alunos não acompanham a turma. As atividades incentivam o aluno, que fica mais preparado”, diz Míriam

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