quarta-feira, 18 de março de 2009

Especialistas discutem validade de programas de recompensa a alunos

Folha de São Paulo, 16/03/2009 - São Paulo SP

Por LISA GUERNSEY


Psicólogos desaconselham há décadas premiar ou dar dinheiro a crianças por sua performance escolar. Recompensas "extrínsecas", dizem -por exemplo, um brinquedo para uma criança de quatro anos que decora o alfabeto ou dinheiro para as que têm notas boas na escola- podem prejudicar a alegria de aprender pelo simples bem de aprender e podem até incentivar fraudes. Mas muitos economistas e empresários discordam, e as opiniões deles frequentemente acabam prevalecendo no mercado educacional. Programas de recompensas estão em funcionamento em muitas cidades norte-americanas. Em algumas, estudantes podem ganhar centenas de dólares por fazer cursos e tirar notas boas. Se esforços desse tipo funcionam ou se têm resultados inversos aos desejados "ainda é uma discussão que esquenta os ânimos", disse Barbara Marinak, professora-assistente de educação na Universidade Pennsylvania State, que se opõe ao uso de prêmios como incentivos. A questão costuma suscitar debates entre pais. E um novo foco sobre a reforma escolar está levando pesquisadores a coletar mais dados que talvez indiquem quando e se as recompensas funcionam. "Precisamos ultrapassar nossas ideias preconcebidas", disse Roland Fryers, economista da Universidade Harvard que está elaborando e testando vários programas de recompensas. "Felizmente, o método científico nos permite identificar a maioria dessas ideias e deixar que os dados falem por si sós." O que está claro sobre os programas de recompensas é que estão proliferando. Em Nova York e Dallas, estudantes do ensino médio são pagos por bons resultados nos exames de um programa chamado Colocação Avançada. Em Nova York, as recompensas em dinheiro vêm do grupo de reforma educacional Recompensando as Realizações. O programa de Dallas é organizado pelo grupo texano sem fins lucrativos Estratégias de Colocação Avançada. Os resultados do primeiro ano do programa Colocação Avançada em Nova York mostraram que os desempenhos nas provas continuaram iguais, mas que mais alunos passaram a fazer os exames, disse o diretor do programa, Edward Rodriguez. Em Dallas, os alunos recompensados têm notas mais altas nas provas vestibulares e se matriculam na faculdade em grau maior do que os outros, segundo Kirabo Jackson, professor-assistente de economia na Universidade Cornell, em Ithaca, Nova York, que escreveu sobre o programa no periódico "Education Next". Mesmo assim, muitos psicólogos avisam que as recompensas podem funcionar a curto prazo, mas ter efeito prejudicial mais adiante.
Um dos primeiros estudos sobre o assunto foi publicado em 1971 por Edward Deci, psicólogo da Universidade de Rochester, Nova York. Segundo o estudo, a partir do momento em que os incentivos foram interrompidos, os estudantes passaram a demonstrar menos interesse por seus estudos do que aqueles que nunca tinham recebido recompensas. O que causa a perda de motivação? Alguns teorizam que as crianças, mesmo as em idade pré-escolar, percebem que alguém está tentando controlar seu comportamento. A reação é resistir a esse controle. "Uma das questões centrais é analisar como as crianças processam tudo isso", ponderou o psicólogo Mark Lepper, da Universidade Stanford. "Será que pensam 'estão me subornando'?" Já economistas argumentam que, no caso de alunos que vão mal nos estudos, vale tentar tudo, inclusive recompensas. "Eles podem se esforçar mais e, quem sabe, descobrir que não são tão ruins assim nos estudos", disse Jackson, de Cornell. "E podem aprender métodos de estudo que sejam úteis ao longo do tempo."

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