quarta-feira, 18 de março de 2009

As mazelas da educação

> Diário Catarinense, 18/03/2009 - Florianópolis SC

Editorial

Três questões aparecem como os principais problemas da educação pública brasileira, segundo a opinião dos entrevistados de uma pesquisa que o Ibope realizou para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e para a Rede Globo, em parceria com o movimento Todos pela Educação. São elas, no plano nacional, pela ordem, a desmotivação dos professores, a insegurança pública e a precariedade das instalações escolares. Na Região Sul, a ordem se inverte: a falta de segurança e a ameaça das drogas aparecem em primeiro lugar, seguidas da insuficiência das instalações e da falta de motivação dos professores, estes em geral desestimulados e mal pagos. Além dessas questões pontuais, a pesquisa permite uma visão de razoável abrangência da questão da educação no país. Embora a preocupação específica com a baixa qualidade de ensino e aprendizagem apareça apenas em sexto lugar na pesquisa, é dessa questão que se trata quando a população aponta para a existência de insegurança, precariedade das condições materiais ou degradação da função e da figura do professor.
Cada vez mais, os brasileiros estão conscientes da importância de enfrentar as mazelas que atrapalham o avanço do país nessa questão crucial para o desenvolvimento social e econômico. Neste sentido, a preocupação essencial deveria ser a qualidade do ensino, a responsabilidade da escola em atingir as metas nas salas de aula e a implantação de um ambiente de confiança e de saudável emulação. Tal preocupação, no entanto, é hoje acrescida de outras que, queira-se ou não, acabam incidindo negativamente na capacidade da escola de transmitir informação e de preparar as gerações para vencerem as etapas e superarem os desafios. As famílias, da mesma maneira que o restante da comunidade escolar, ao terem que se preocupar com a violência que cerca a escola ou com a presença de traficantes de drogas em suas portas, são necessariamente levados a dividir os esforços que normalmente deveriam ser direcionados para a qualificação do ensino.
Já a questão da desmotivação dos professores é, sim, tema central no quadro da qualidade do ensino. A desvalorização da atividade docente, a falta de estímulos para o crescimento profissional dos professores e os salários normalmente defasados e insuficientes fazem com que essa degradação se transfira ao ensino das atuais gerações e à própria reposição futura dessa mão-de-obra especializada e insubstituível. A pesquisa do Ibope apanha, assim, alguns dos fatores decisivos na complexidade da questão educacional brasileira. Mesmo que as conclusões do estudo não sejam necessariamente novas ou surpreendentes, elas confirmam a existência de causas individuais e de contextos genéricos que precisam ser enfrentados pelos governos e pela comunidade escolar. Há uma tarefa objetiva que, com sua complexidade, exige a participação, o esforço, a boa vontade e o talento de todos.

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