quarta-feira, 11 de março de 2009

Projeto do MEC quer que escolarização mínima seja do pré até o Ensino Médio



Estudantes poderão passar mais tempo nas salas de aula. Isso porque é cogitada pelo MEC (Ministério da Educação) a obrigatoriedade do Ensino Médio e da pré-escola a todos a partir do próximo ano. Estima-se que 3,5 milhões de crianças entre quatro e cinco anos e jovens entre 15 e 17 anos estejam fora das escolas, já que apenas o Ensino Fundamental, que atende na maioria pessoas de seis a 14 anos, é obrigatório no Brasil.
Alguns pais que têm filhos pequenos em casa aprovam a iniciativa, principalmente quem não tem recursos para custear a educação privada. "Vontade minha filha tem de estudar, mas ainda não a aceitam na escola. Se começar a estudar mais cedo, vai aprender a ler e escrever", espera Luciane dos Santos, dona de casa.
A menina de apenas três anos passa o tempo em uma humilde casa do Bairro Esmeralda, região oeste de Cascavel. Quando não está em frente à televisão, brinca com os outros irmãos no terreno de casa, cheio de lixo reciclável, de onde sai o sustento da família. "Muitas vezes ela fica sem nada para fazer", conta a mãe de Iris Martins de Lima, que já ajuda em algumas limpezas da casa.
Estão matriculados em turmas de 1º ano de Cascavel mais de 3,4 mil estudantes. Se fosse obrigatório o pré, a mesma demanda necessitaria de salas de aula. Hoje são 2,3 mil crianças nos Cmeis (Centros Municipais de Educação Infantil). A demanda reprimida é de 700 crianças. Mudanças no sistema educacional demandariam maiores investimentos em infraestrutura.
Para a assessora de gabinete da Semed (Secretaria Municipal de Educação) e professora Rosângela Ferreira dos Santos Nietto, alguns pais entendem que os filhos são novos demais para frequentar uma escola e por isso preferem que fiquem em casa. "A obrigatoriedade não é a melhor opção. Cada criança tem um tempo, algumas estão mais preparadas e outras nem tanto. Deve ser facultativo, não gostaria que impusessem. Sou a favor que a pré-escola seja escolha dos pais", argumenta Rosângela.
Embora pareça precipitada a alfabetização de crianças com quatro anos na pré-escola, a educadora reconhece que existe diferença na facilidade de aprendizado entre aqueles que começaram cedo a vida estudantil de outros que resolveram esperar. "Recebemos crianças que não foram alfabetizadas, sem o trabalho pedagógico, coordenação motora, ambiente, relacionamento com colegas. Algumas chegam sem saber pegar em um lápis", comprova Rosângela.


Pais encontram falhas nos estudos

A casa construída após muito sacrifício serve de abrigo para os quatro filhos de Delmara Aparecida dos Santos, dona de casa e coletora de materiais recicláveis, no Bairro Esmeralda. Com chuva ou com sol, ela precisa deixá-los para ganhar o sustento de todos. Cada vez que sai, carrega na consciência a preocupação com os filhos. Apesar da vida simples, deseja um futuro melhor às crianças.
O que não teve quando jovem, e apesar das mesmas dificuldades que os pais tiveram, fará de tudo para que eles completem o ensino. Como a única alternativa de melhorar de vida para ela e aos filhos é a educação, concorda com a obrigatoriedade da pré-escola e do Ensino Médio. "Quero que eles tenham uma profissão, conquistem uma vida melhor", ressalta Delmara.
Apesar da vontade, a mãe aponta falhas na educação básica dos filhos. Um deles está no 2º ano e sequer sabe escrever o nome. Mesmo assim, passou para outro ano. "Poderiam começar a estudar bem cedo para aprender mais. Mas o estudo está muito fraco. Minha filha está no 2º ano e não sabe escrever o nome, só passou porque não tinha faltas e os professores não quiseram reprová-la. Ela deveria ter feito tudo de novo. Se tivesse mais aula, aprenderia mais, em casa não tem o que fazer".
Dois filhos estão na escola. Os outros não atingiram a idade mínima. Como não tem carteira registrada, também não pode colocar os dois menores nos Cmeis.


Estrutura deve ser ampliada

A opção de escolha ao invés da imposição é o melhor, conforme a educadora Rosângela Ferreira dos Santos Nietto, assessora de gabinete da Secretaria de Educação.
Porém, para que isso ocorra, seria necessário ampliar a infraestrutura para que todos tenham acesso à educação. "Tornar obrigatório não é o melhor. Mas quanto antes a criança entrar em contato com a escola melhor. Adotamos no Município o materialismo dialético, é preciso interação social para que exista desenvolvimento do ser humano, fundamental para o desenvolvimento gradativo", ressalta. (Jornal Hoje)

Nenhum comentário: